21 de novembro de 2012

Saman




Os Xamãs da Sibéria é de Ronald Hutton, Historiador que se aventurou pela Taiga siberiana, nos anos 80, à procura dos seres fantásticos que haviam estimulado a imaginação dos europeus e americanos. Os Xaman foram dados inicialmente a conhecer pelos relatos de eruditos russos e mais tarde por Mircea Elíade, reputado antropólogo.

A própria palavra xaman (com rapidez e acento na segunda sílaba) é de origem Tungusica, usada pelas tribos siberianas, que falam Manchu (Evenk, Even, Nanay, Orochi e Udegey). O termo foi registado pelos eruditos russos e difundido no ocidente em finais do Século XIX.

Significa: o extático. A palavra em si refere-se tanto ao feminino como ao masculino (para algumas tribos).

A palavra xaman acabou por ser popularizada entre a comunidade científica, nomeadamente por Mircea Elíade em 1964, ao intitular o seu livro de O Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do Êxtase (falarei, a seu tempo). A palavra Xamanismo começou a ser empregue para designar técnicas utilizadas por todos os povos tribais de todo o mundo, através do tempo.
Na Sibéria as tribos eram constituídas por clãs, com sistema de privilégio e chefia, com práticas económicas semelhantes - guardadores de gado e caçadores; estilo de vida que reflecte a natureza da sua terra. Não era uma sociedade guerreira, as terras eram demasiado pobres para isso, embora as rixas de linhagem e limites territoriais fossem um problema permanente. 
A austeridade climática ocupava constante presença, e era para isso direccionada a sua energia, no dia a dia.


Aqui vai uma súmula de várias partes do livro, no que diz respeito às tribos que emprestaram o nome ao xamanismo e como a sua rica cultura pereceu:

Foi no século XVI que os soldados russos inicialmente entraram na Sibéria. Tão vasto território não foi de fácil penetração.Mas é só sob o governo estalinista que a última tribo, os chuckchi (vê o vídeo abaixo) é submetida à tutela do governo. Demorou portanto, mais de 4 séculos até que os russos chegassem aos seus confins.

A Rússia Czarista não era apologista da escravatura e os povos tribais eram apenas súbditos, que viviam livres e felizes. Os siberianos eram encorajados a usar as suas linguagens, danças, canções e costumes e a Sibéria. E ao contrário do que aconteceu nas Américas, a austeridade da terra era pouco convidativa para a instalação de colonos.
É claro que apesar desta aceitação o racismo e a exploração económica aconteciam...



Mas a ocidente, as tribos, tinham tido maior contacto com o continente e muitos eram imunes às doenças ocidentais. Já no extremo leste o mesmo não aconteceu, ruindo as suas tribos perante a gripe, a sífilis e a varíola, muito à semelhança do que aconteceu no continente americano.

Em 1910, quem viajasse ao longo do Rio Yenisei, pautava a toda sua viagem pelo cântico e monótono rufar dos tambores do Xaman.
Entre 1920 e 1950 foi tempo da grande repressão perpetrada pelo estado Soviético. Incluída num programa que incluía a colectivização da economia nativa, destruindo a autoridade do clã, forçando a reeducação de crianças à maneira ocidental e perseguição de todas as expressões públicas da sua fé religiosa.

(rio Yenisei - aqui)


Nos anos 30, por exemplo no Soyot, coração das montanhas do Sul, eram 700 os Xaman para uma população de 30 000.
Em 1950 não se via nenhum. Operavam com medo em privado.
Richard Hutton, nos anos 80, debelou-se para encontrar xamãs e todas as suas tentativas foram infrutíferas.
Lembra-te que este livro foi escrito ainda sob o regime comunista e hoje em dia já retornam os xamãs... talvez mudados, porque a sociedade está mudada também. Felizmente o hiato de tempo é curtíssimo e o retorno veio em força... (ou não?)

2 comentários:

Soraia disse...

Muuuito bom!

Astrid Annabelle disse...

Também gostei muito. Vi o link que a Soraia publicou no Trilho do Xamanismo...
Um abraço agradecido.
Astrid Annabelle